20070302

A hiper-identidade nacional

Vem este post a propósito de um comentário anterior, que desde já agradeço. E escrevo-o porque se trata de um dos meus assuntos preferidos e com que costumo chatear a paciência dos meus amigos: a identidade nacional. Não sei se partilha da mesma opinião, mas o(a) autor(a) faz referência a Eduardo Lourenço, que advoga que “temos uma hiper-identidade nacional fortíssima que nos manteve sempre unos e sem indícios de separatismos”.

Longe de mim discordar de tão brilhante pensador, mas o que ele diz não é novidade nenhuma. Se fizermos a pergunta a 100 “pensadores”, pelo menos 99 e meio estarão de acordo com ele. O meio pensador é só para esta sondagem mental estar dentro do intervalo de confiança.

Só existe um problema: eles estão errados!

Para o Sr. Eduardo Lourenço só tenho uma palavra: Olivença. Aquilo foi português durante 504 anos e, à falta de melhor palavra, foi ocupada pelos espanhóis em 1801. Até hoje. E os 206 anos de ocupação criaram, para usar as palavras de Eduardo Lourenço, “uma hiper-identidade nacional fortíssima que os manteve sempre unos (a Espanha) e sem indícios de separatismos”.

Aliás, é a primeira vez que vejo uma hiper-nacionalidade originar ausência de indícios de separatismo. Deve ser mais uma originalidade portuguesa. Já conhecia as hiper-nacionalidades separatistas dos bascos, dos irlandeses, dos croatas e dos sérvios, até dos sicilianos e dos corsos. Agora também temos que colocar nos compêndios a hiper-nacionalidade light, tipo “a que país pertencemos? Portugal? Pode ser”. Parafraseando a Floribela, essa grande pensadora dos nossos dias, temos uma nacionalidade hiper-mega-super.

Haveria muito mais para dizer acerca do assunto, mas o texto tornar-se-ia demasiado extenso. Voltarei ao assunto, quando tiver oportunidade. Entretanto deixo a porta aberta para receber outras opiniões, especialmente o meu amigo de terras de sua majestade. São sempre bem-vindas. Quem sabe, até posso mudar de opinião, afinal sou português…

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Post Scriptum

Deixo aqui o que escrevi em Dezembro a propósito do tema:

Mas que raio de identidade existe nos portugueses? Um algarvio de Monchique tem tanto a ver com o galo de Barcelos como um maori com uma rena da Lapónia. Por muito que me custe dizer isto, há muito mais de “identidade” lusitana no Eusébio e na Amália (e não estou a falar das lontras do oceanário) que nas obras do Saramago ou nos discursos do Cavaco. Acho mesmo que devíamos adoptar o Eusébio e a Amália como símbolos nacionais – agora estou a falar das lontras. Querem algo mais português que um casal de lontras a ser visitado por turistas e alimentado pelo Orçamento de Estado?

4 comentários:

ladecima disse...

Acho que Olivença não chega para sustentar uma tese sobre identidade nacional...

mv disse...

Claro que não.
Talvez se os espanhois tivessem anexado Elvas... haveria mais casos para estudar.
Sei que existe um grupo chamado "amigos de Olivença" ou coisa parecida. Sabes dizer-me se algum deles é mesmo de Olivença?

LA disse...

Mr. MV, devias dizer qual e' o tal comentario.
Olha que eu nao gosto de tratamentos VIP's, se me das muito destaque, eu bazo!
Eu nunca pensei muito nessa coisa da nossa identidade, apesar de ja conhecer a tua opiniao. Deve haver outros povos com poucas coisas com que formar uma identidade.
Nao sei se a nossa e' forte ou fraca, parece-me tao boa como a espanhola ou a italiana.
Eu gostava era que passasses um ano no estrageiro, longe de Portugal, e depois gostava de te ver a chegar ao aeroporto Sa Carneiro! Ate cantavas um fadinho a sonhar com o bacalhau que irias comer a seguir! Nao sei se sao saudades de casa ou da identidade, mas comigo passa-se isso!

Anónimo disse...

Não. Isso não é identidade nacional.
É mesmo comidinha da mãe.
Não precisei de emigrar para cantar um fadinho defronte ao cabrito preparado pela Dona Lurdes.
Bastou-me casar.
(A E repudiou este comentário, mas disse-lhe que ra no blog do mv e destinava-se ao la. Ela perdoou.)