20070728

Os autores dos direitos

Foram encerrados três sites portugueses que disponibilizavam conteúdos multimedia à revelia dos direitos de autor.

Da reportagem do Telejornal não liguei ao chorrilho de banalidades despejadas pelos agentes da PJ como aquela de poderem accionar criminalmente os utilizadores do serviço. Estamos a falar de 200 mil “criminosos”. Só o facto de alguém aventar a hipótese já é, quanto a mim, motivo para suspeitar da sanidade mental de quem profere tamanha barbaridade. Como é que faziam? Entupiam os tribunais para as próximas duas gerações ou faziam um sorteio? Talvez pudessem pôr a Maria José Morgado a chefiar uma “equipa especial” que tratasse do caso.

No entanto quem aventou publicamente a hipótese foi a própria responsável pela operação e pelo encerramento dos sites. Não ponho em causa a sua competência, pelo que a razão só pode ser outra: o de tentar dissuadir as pessoas de fazerem os downloads. Para isso até chegou a dizer que tinha a informação dessas 200 mil pessoas. Assustador se não fosse cómico.

A mensagem final, vincada pelo José Alberto Carvalho, era para que os pais controlassem os downloads dos filhos não fosse um dia destes a PJ bater-lhes à porta. E pronto: já temos um par de judites informáticos em cada lar português.

Para se perceber melhor a situação, de seguida apareceu o presidente da Associação fonográfica que falou da treta do costume sobre proteger os autores. Vi logo que ali havia “rabo com gato de fora”. E que gatarrão. Ao lado estava o Tim dos Xutos. Explicou que o download legal de uma música dos Xutos custa 99 cêntimos, mas para o Tim músico só vai 1 (um!) cêntimo. Um por cento! É quanto valem os direitos de autor para os senhores da indústria.

Aliás Tim fez a comparação com o vendedor da fruta: se quero vender tenho que por a fruta ao pé da rua. É inevitável que alguém passe e leve alguma. Faz parte do negócio. Afinal nem são os artistas que mais se revoltam com isto (não estou a falar do Veloso ou do Represas) mas sim os tipos da massa.

Está nas mãos destes senhores ajudar a moralizar esta situação. Bastava que abrissem mão das margens que guardam para si e por abaixamento do preço tornassem os downloads cada vez menos atrativos. Talvez até conseguissem aumentar os lucros. Então a máxima do governo a propósito do “peça a factura, o país agradece” (um dia hei-de falar do assunto) de que quantos mais pagarem você paga menos é apenas treta? Deve ser, porque nem os impostos nem os preços dos discos e dos filmes baixam.

Post scriptum:

Nem de propósito. No JN de hoje, na rubrica FARPAS, responde o Rui Reininho.

Pergunta: Já encontrou CD piratas dos GNR à venda?

Resposta: Já. E já me pediram para os autografar. Tenho uma posição contraditória. Vivemos disso e é um roubo, mas reconheço que o preço das coisas é escandaloso.

Nem mais! (isto agora sou eu a dizer)

Acerca doutro assunto, na mesma entrevista:

Pergunta: Foi convidado para o Prós e Contras sobre o Porto?

Resposta: Fui, mas estava doente. Não vi, mas disseram-me que foi desagradável. Os meninos ricos a contar que Lisboa não lhes dava dinheiro, não foi?

Ah, ganda Reininho.