A população de Chaves cortou a estrada que liga Portugal a Espanha junto à fronteira de Vila Verde de Raia. Protestavam contra a possível decisão de despromover a urgência do concelho.
Consta que a população trouxe bandeiras de Espanha para a rua e gritou vivas à monarquia aqui do lado. Reparem neste pormenor: gritavam “viva Espanha” e cortaram a estrada que liga Chaves à fronteira. Não faz muito sentido, pois não? Não deveriam antes cortar a estrada que vai para Lisboa?
Há um ponto que merece ser esclarecido nesta história. Trata-se de saber se a população estava a Norte ou a Sul do corte de estrada. Se estava a Norte, poderia querer dizer que a população de Chaves estava na disposição de emigrar para o país vizinho em sinal de protesto para com a política do ministro da Saúde. A alternativa à emigração, seria pedir a anexação à região da Galiza. Neste caso, deveriam ter feito o corte a Sul de Chaves.
Este caso fez-me recordar a célebre frase “Para cá do Marão, mandam os que cá estão” e a sua versão lisboeta: “Os de lá do Marão, vêm cá de chapéu na mão”.
Têm toda a razão os flavienses ao considerar que deveriam ser tidos e achados nesta questão. Deveria mesmo ser feito um referendo em Chaves, a perguntar se questões como esta deveriam ser decididas em Lisboa, por um ministro arrogante ou se deveriam ser decididas pelos transmontanos.
Espera lá, esta pergunta já foi feita. Aliás, perguntou-se se além destas questões, outras, como a politica de educação, o planeamento estratégico, o ordenamento do território ou os impostos locais, deveriam ser decididos em Lisboa ou em Trás-os-Montes.
Foi no dia 8 de Novembro de 1998. Deixa cá ver o que decidiram os flavienses. Espanto! 64,3% dos flavienses acharam que deveria ser o ministro arrogante a decidir.
Pois bem, o ministro arrogante decidiu.
Os custos da interioridade
Muito se fala dos custos da interioridade. Esta é a maior treta inventada pelos citadinos do litoral e que os rurais do interior engoliram dum trago. E sem copo de água para empurrar.
A região mais interior da Europa ocidental é a Suiça. Comparado com a Suiça, Trás-os-Montes é quase Copacabana. Mesmo Madrid fica mais longe do oceano que Chaves. Interioridade é um eufemismo para alienação. Alienação do direito (e do dever) de decidir.
A culpa é de Lisboa? Não! Deve haver mais transmontanos em Lisboa que em Chaves. O problema não é esse. O problema somos nós, aqueles que vivem naquilo que os lisboetas chamam carinhosamente província. A estigmatização chegou ao ponto de se ter criado a sigla NLVT nos critérios de atribuição de subsídios da União Europeia. NLVT quer dizer Não Lisboa e Vale do Tejo. É o que nós somos. Somos uns NLVT.
Somos como aqueles adolescentes que passam a vida a dizer mal do pai que não lhes dá autonomia e é somítico na semanada. Mas, quando este os manda trabalhar, berra e esperneia, agarrado às saias da mãe. E então contenta-se com a parca semanada e sai porta fora, para a gastar em cigarros e shots de vodka.
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Ah, esquecia-me de dizer. Se estiverem a pensar pedir a anexação a Espanha, não se esqueçam que por aquelas bandas já existe aquela coisa horrível chamada regionalização. Se estão a pensar em trocar a teta de Lisboa pela teta de Madrid, desenganem-se.
Na Galiza não se pedincha, trabalha-se. E os seus destinos são traçados em Santiago de Compostela de acordo com a vontade dos galegos. De todos os galegos. E de mais ninguém, além dos galegos.