20070226

Publicidade Condicional

Aqui vai mais publicidade nojenta, versão 3.

“Sete em cada dez médicos recomendariam Becel”. Recomendariam em que condição? Com uma pistola apontada à cabeça? Com uma viagem às Bahamas? É muito vago.

Viva! O condicional é a última arma do Marketing. Dadas as circunstâncias, até acho que 7 em cada 10 é pouco.

Atrevo-me mesmo a dizer que, com as condicionantes adequadas, 9 em cada 10 leitores deste post recomendariam a sua leitura aos amigos.

20070224

Para lá do Marão

A população de Chaves cortou a estrada que liga Portugal a Espanha junto à fronteira de Vila Verde de Raia. Protestavam contra a possível decisão de despromover a urgência do concelho.

Consta que a população trouxe bandeiras de Espanha para a rua e gritou vivas à monarquia aqui do lado. Reparem neste pormenor: gritavam “viva Espanha” e cortaram a estrada que liga Chaves à fronteira. Não faz muito sentido, pois não? Não deveriam antes cortar a estrada que vai para Lisboa?

Há um ponto que merece ser esclarecido nesta história. Trata-se de saber se a população estava a Norte ou a Sul do corte de estrada. Se estava a Norte, poderia querer dizer que a população de Chaves estava na disposição de emigrar para o país vizinho em sinal de protesto para com a política do ministro da Saúde. A alternativa à emigração, seria pedir a anexação à região da Galiza. Neste caso, deveriam ter feito o corte a Sul de Chaves.

Este caso fez-me recordar a célebre frase “Para cá do Marão, mandam os que cá estão” e a sua versão lisboeta: “Os de lá do Marão, vêm cá de chapéu na mão”.

Têm toda a razão os flavienses ao considerar que deveriam ser tidos e achados nesta questão. Deveria mesmo ser feito um referendo em Chaves, a perguntar se questões como esta deveriam ser decididas em Lisboa, por um ministro arrogante ou se deveriam ser decididas pelos transmontanos.

Espera lá, esta pergunta já foi feita. Aliás, perguntou-se se além destas questões, outras, como a politica de educação, o planeamento estratégico, o ordenamento do território ou os impostos locais, deveriam ser decididos em Lisboa ou em Trás-os-Montes.

Foi no dia 8 de Novembro de 1998. Deixa cá ver o que decidiram os flavienses. Espanto! 64,3% dos flavienses acharam que deveria ser o ministro arrogante a decidir.

Pois bem, o ministro arrogante decidiu.

Os custos da interioridade

Muito se fala dos custos da interioridade. Esta é a maior treta inventada pelos citadinos do litoral e que os rurais do interior engoliram dum trago. E sem copo de água para empurrar.

A região mais interior da Europa ocidental é a Suiça. Comparado com a Suiça, Trás-os-Montes é quase Copacabana. Mesmo Madrid fica mais longe do oceano que Chaves. Interioridade é um eufemismo para alienação. Alienação do direito (e do dever) de decidir.

A culpa é de Lisboa? Não! Deve haver mais transmontanos em Lisboa que em Chaves. O problema não é esse. O problema somos nós, aqueles que vivem naquilo que os lisboetas chamam carinhosamente província. A estigmatização chegou ao ponto de se ter criado a sigla NLVT nos critérios de atribuição de subsídios da União Europeia. NLVT quer dizer Não Lisboa e Vale do Tejo. É o que nós somos. Somos uns NLVT.

Somos como aqueles adolescentes que passam a vida a dizer mal do pai que não lhes dá autonomia e é somítico na semanada. Mas, quando este os manda trabalhar, berra e esperneia, agarrado às saias da mãe. E então contenta-se com a parca semanada e sai porta fora, para a gastar em cigarros e shots de vodka.


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Ah, esquecia-me de dizer. Se estiverem a pensar pedir a anexação a Espanha, não se esqueçam que por aquelas bandas já existe aquela coisa horrível chamada regionalização. Se estão a pensar em trocar a teta de Lisboa pela teta de Madrid, desenganem-se.

Na Galiza não se pedincha, trabalha-se. E os seus destinos são traçados em Santiago de Compostela de acordo com a vontade dos galegos. De todos os galegos. E de mais ninguém, além dos galegos.



20070206

Referendo

Se há coisa que me irrita é querermos à viva força obrigar os outros a viver segundo o nosso modelo de vida. Eu pensava que o tempo das cruzadas já tinha passado e que a civilização ocidental, depois de duas guerras mundiais e um genocídio, tinha aprendido a ser tolerante. Estava enganado. Esta última década tem-se encarregado de me desmentir.

Vem isto a propósito do referendo do próximo dia 11.

Não fosse o referendo ser uma alteração ao código penal, eu, pelo facto de ser homem, nem deveria ser chamado a pronunciar-me. Porque este é um assunto que apenas à mulher diz respeito. Mulher, assim, no singular e não mulheres, no plural.

E sendo assim, o referendo dos valores morais já foi feito há muito e é irreversível. Aliás, esse referendo é feito diariamente pela consciência de cada mulher que tem que tomar uma decisão.

O código penal actual não impede esta decisão, limita-se a distribuir pedras. Não serei eu a atirar a primeira.

20070201

Metro do Porto inaugura estação do Terreiro do Paço

É um facto. O Metro do Porto vai passara ser gerido a partir do Terreiro do Paço.

A decisão, há muito tomada, é divulgada em plena campanha do referendo, tipo pezinhos de lã. O argumento é simples: as contas do Metro do Porto estão a derrapar e estão nas mãos dos autarcas que são uns amadores. As derrapagens e o esbanjamento devem estar nas mãos de profissionais, a Administração Central. É que um milhão desperdiçado no relatório de contas da Metro do Porto dá muito nas vistas, mas dez milhões encaixados entre a OTA e o TGV não passam duma nota de rodapé.

Tem toda a razão o ministro acerca do esbanjamento da província. Isto de meter nas contas do Metro, a construção e restauro de vias públicas é um desnecessário gasto do erário público. Pegue-se já nesse milhão desperdiçado e contrate-se já uma consultora americana para fazer um estudo acerca da necessidade dessas ruas.

É que, ao contrário das ruas, os estudos são despesas perfeitamente legítimas e justificáveis. E ficam bem em qualquer gaveta.

Publicidade Nojenta 2

Gostaria de saber quem é o responsável pelas campanhas publicitárias do BES. Depois dos 10.8% tem agora um spot que anuncia as maravilhas da taxa fixa e em que, a propósito da Euribor, chama burro aos portugueses.

Com empréstimos a 30 ou 40 anos, com taxa fixa negociada nesta altura, o BES viu um pote de ouro atrás do arco-íris. Num país onde todos se julgam economistas, já estou a imaginar o cenário de muitos portugueses pagarem no futuro o “bom negócio” que fizeram hoje.

Vi o vice-presidente do Millennium BCP, a propósito dos aumentos das mensalidades dos empréstimos devido à subida das taxas de juros, jurar a pés juntos que informavam os clientes acerca da taxa fixa, mas que os clientes preferiam a indexada. Acredito piamente.

Mas, por mais voltas que dê à memória, não me consigo recordar de nenhum anúncio na televisão, de nenhum banco, sobre a taxa fixa nos últimos três anos. Se calhar até houve, mas como não metia burros, não estou recordado.