O Poder Local e a identidade nacional
Na segunda-feira discutiu-se nos prós e contras o estado actual da nossa capital. Para além do costumeiro lavar de roupa suja, dos rancores de estimação, vinganças pessoais e auto elogios, pouco se concluiu. O sentimento final que fiquei foi que os lisboetas estão entregues aos bichos. E quando a capital está entregue aos bichos, o resto do país há muito que está fossilizado.
De interessante mesmo, só a intervenção do
Aliás este sistema é tão bom que devia ser exportado para o país. Ao Sócrates, em vez de levar com a oposição, com o Marques Mendes, o Louçã, o Jerónimo e, quando a agenda o permite, o Ribeiro e Castro, bastava distribuir-lhes uns ministérios. Já estou a ver: o Mendes na Economia, o Louçã na Saúde, o Jerónimo na Segurança Social e o Ribeiro nos Negócios Estrangeiros. Tínhamos um verdadeiro cozido com todos, algo de genuinamente português.
Assim temos o Portugal do oito e do oitenta. Sempre que muda o Governo, começa-se o país de novo como se o que foi feito anteriormente fosse tudo lixo. No poder local nada muda: muitos dos últimos eleitores dos presidentes das câmaras actuais nem sequer tinham nascido quando estes foram eleitos pela primeira vez. O argumento muitas vezes utilizado é que o poder local tem sido um sustentáculo da identidade portuguesa. Mas que raio de identidade existe nos portugueses? Um algarvio de Monchique tem tanto a ver com o galo de Barcelos como um maori com uma rena da Lapónia. Por muito que me custe dizer isto, há muito mais de “identidade” lusitana no Eusébio e na Amália (e não estou a falar das lontras do oceanário) que nas obras do Saramago ou nos discursos do Cavaco. Acho mesmo que devíamos adoptar o Eusébio e a Amália como símbolos nacionais – agora estou a falar das lontras. Querem algo mais português que um casal de lontras a ser visitado por turistas e alimentado pelo Orçamento de Estado?
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